O Setor Sucroenergético apresenta diferenças significativas em termos de atividades, demanda de mão-de-obra, produção e desafios operacionais nos períodos de entressafra e safra.
De maneira sintética, tem-se que a entressafra é um período de manutenção, reparos e ajustes, com uma redução na produção e atividade nos campos, enquanto a safra é caracterizada pela intensa atividade de colheita e produção nas usinas de cana-de-açúcar. Essas diferenças exigem uma gestão cuidadosa dos recursos humanos, logística e operações para garantir o sucesso contínuo das usinas ao longo do ano.
Nesse sentido, a operação do setor sucroenergético durante a safra apresenta uma miríade de desafios jurídicos, refletindo a complexidade do setor e as demandas regulatórias em constante evolução. Desde questões trabalhistas até ambientais, passando por contratos agrícolas e regulamentações específicas da indústria, há uma série de considerações legais que as usinas enfrentam, veja-se.
A operação de uma usina durante a safra requer uma força de trabalho significativa, com o cumprimento rigoroso das leis trabalhistas, garantindo condições seguras e justas para os funcionários. O contrato de “safrista”, por exemplo, possui regramento próprio e especificidades que devem ser atendidas, mitigando os riscos do contratante, assim como assegurando os direitos e as condições dignas de trabalho aos contratados. Além disso, é necessário o estrito cumprimento das regulamentações de jornada de trabalho, pagamento de horas extras, fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) e garantia de condições de trabalho adequadas para prevenir acidentes.
Além das questões de cunho laboral, as usinas muitas vezes dependem de contratos com fornecedores de cana-de-açúcar para garantir o abastecimento durante a safra. Esses contratos precisam ser elaborados de forma precisa e transparente, estipulando os termos de entrega, qualidade da matéria-prima, preços, penalidades por descumprimento e outros aspectos relevantes. Disputas contratuais podem surgir, especialmente em relação à qualidade da cana entregue ou atrasos na entrega, mas também quanto à pontualidade de pagamento, incidência de encargos e cláusulas penais. Fornecedores e indústria devem estar alinhados e atentos ao cumprimento dos prazos, o que, muitas das vezes, demanda repactuação dos contratos vigentes e boa-fé contratual.
E não se olvide que a indústria sucroenergética está sujeita a regulamentações ambientais rigorosas, especialmente no que diz respeito ao manejo dos resíduos e à proteção dos recursos hídricos, além da proibição expressa das queimadas. Durante a safra, as usinas geram uma quantidade significativa de resíduos, como bagaço e vinhaça, que precisam ser tratados e descartados de acordo com a legislação ambiental, cujo instrumento regulatório varia em cada ente federativo. Além disso, as usinas devem cumprir normas específicas relacionadas à operação de caldeiras, emissões atmosféricas e gestão de efluentes.
Além do cuidado com a emissão de poluentes e bem estra ambiental, a produção de açúcar e etanol está sujeita a padrões rigorosos de segurança alimentar e regulamentações sanitárias. Durante a safra, as usinas devem garantir que seus processos de produção atendam a esses padrões, evitando contaminação e garantindo a qualidade e segurança dos produtos finais.
Importante frisar, também, que as usinas sucroenergéticas muitas vezes estão localizadas em áreas rurais, onde sua operação pode ter um impacto significativo na comunidade local. Problemas como poluição sonora, tráfego intenso de veículos durante a colheita e disputas por recursos naturais podem surgir, exigindo uma abordagem cuidadosa para gerenciar as relações comunitárias e evitar conflitos legais.
Conforme aqui esclarecido, o cuidado com o meio ambiente diz respeito não somente ao espaço físico em que os parques industriais e as áreas de plantio estão alocadas, mas especialmente com o cuidado e a manutenção da sadia qualidade de vida das pessoas que compõem a cadeia produtiva e comunitária, para as presentes e futuras gerações, o que demanda especial atenção com a garantia ao direito à saúde.
Enfrentar esses desafios requer uma combinação de conformidade legal, gestão eficaz de riscos e um compromisso contínuo com as melhores práticas da indústria. As usinas sucroenergéticas que conseguem navegar com sucesso por essas questões jurídicas estão mais bem posicionadas para alcançar o sucesso a longo prazo no mercado competitivo da indústria sucroenergética.
Janaína Stein
29/04/24